terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nossa sala vai virar mar para receber Beto Pandiani: O que uma gotinha pode nos ensinar?


Beto Pandiani, o Betão, é exímio velejador dos 7 mares já tendo cruzado o estreito de Drake na Antártica, o Oceano Pacífico do Chile á Austrália, dentre outras interessantes e desafiadoras viagens.


Velejando na Patagônia.

A longa estadia no mar convidou-o sempre a observar e sentir a força da natureza a sua volta, despertando-o a escrever e a questionar sobre as coisas mais simples e relevantes da vida em nosso cotidiano.

Venha e participe deste encontro conosco no dia 4/2, segunda a partir das 20hs, que será uma reflexão dos contos do autor , o qual revelou-se além de um aventureiro nato um maravilhoso escritor como o conto que segue " A viagem da gotinha".


Beto Pandiani e Igor Bely

Será oferecido um jantar com vinho e 20% da verba será destinada a apoiar sua próxima viagem, a travessia de Capetown à Ilha Bela num barco sem cabine velejando mais de 30 dias sem escalas.

Se desejar poderá participar diretamente, através do " O Pote" pelo link http://opote.com.br/novo/projeto/detalhes/14 e recebendo prêmios especiais.

Contribuição do encontro: R$120,00

Contamos com você na nossa viagem!


Sua casa durante meses.
Seu escritório.

Confirme sua presença enviando-nos um email para contato@casadegfilo.com.br

Obrigada,
um grande abraço,
Flávia



A viagem da gotinha _ Beto Pandiani                                                                 

Agora escuto a chuva lá fora, e me pergunto por onde andaram estas gotas. Qual o caminho que a natureza imputou a elas para que elas viessem me visitar nesta noite molhada?


A chuva parece muito determinada, pois mal acaba de chegar aqui no meu quintal e logo se esconde, escorrendo para algum ralo e indo procurar algum caminho para um rio ou córrego mais próximo. Tem gente que diz “o barulho da chuva”, prefiro dizer “o som da chuva”, soa mais apropriado.


Pois bem, o som destas gotas que caem no meu quintal me faz refletir que uma gota tem uma história, pois ela percorre um caminho cíclico e passa pelo estado líquido, gasoso e sólido, dependendo das suas escolhas. Então uma gotinha que evaporou no meio do oceano e embarcou em uma nuvem pode ter viajado muito, e empurrada pelo vento um dia foi encontrar uma cordilheira. Caiu na terra em forma de cristal e por lá ficou na forma sólida. Sabe lá qual o propósito dela ao escolher um caminho lento, talvez secular para um dia ser levada ao mar novamente e começar outra viagem exploratória.


Existem milhares de caminhos que elas podem escolher, como aquelas que caem em plantações e seguem viagem dentro de frutas, legumes, ou até mesmo dentro de animais que comeram um capim fresco. Será que cada gota sabe que ela esta no cerne da vida aqui no planeta?


Minha vida tem sido viajar pelas imensas massas de gotas que formam o mar, e por ele senti a chuva no meu rosto por vários recantos deste planeta. Fui eu quem foi ao encontro das gotas de chuva da Patagônia chilena, gotas geladas, que descem acompanhadas de vendavais. Também as senti na Amazônia onde elas completam um ciclo, desaguando em forma de chuvas torrenciais em todos os recantos da floresta. Assim cada uma escolhe seu caminho de volta ao mar. As mais apressadinhas caem logo nos rios e se mandam para o oceano, outras ainda se prendem ao seu propósito individual. 



Na antártica senti as gotas em todos os seus estados; líquido, gasoso e sólido. Terra de gotas puras, que decidiram viajar por lugares onde a vista humana não alcança e nem imagina que caminhos elas podem viajar. Como glaciares, geleiras, icebergs e rios subterrâneos. 

No deserto da Patagônia foram elas que saciaram minha sede, entrando pela minha garganta seca e hidratando-me. Não saíram somente pela minha transpiração, mas também pela emoção que senti algumas vezes, e em forma de lágrimas partiram, seguindo seu caminho sem apego. 


Depois de tanto imaginar a viagem das gotinhas, não resisto em ver como a nossa vida tem a ver com a trajetória delas. Fazemos escolhas diferentes assim como uma das gotas que caíram aqui em casa à noite, e começamos a nossa viagem neste mar de emoções que é a vida. Não é a toa que nossas emoções são simbolizadas pela água. 


Vejo que cada um de nós trás uma história, que para mim é a soma de todas as trajetórias que acumulamos. O resultado delas é a nossa vida presente. Mas foram tantas escolhas que acabamos nos esquecendo por onde andamos, e muitas vezes de maneira desatenta não nos damos conta que quem esta ao nosso lado teve uma vasta existência como a de uma gotinha. Já viajou muito, já experimentou tantas formas, tantos estados e quem sabe não seja uma gota que veio nos acompanhar e ajudar em alguma curta jornada a procura do mar. 

Sempre o mar, destino das gotas, e qual será o nosso destino comum? Não vejo muita gente consciente dele, mas sei que este tema causa um incômodo a maior parte das pessoas, porque esbarra na ideia da morte, e não da transformação, como as gotas nos mostram ao evaporarem passando para outro estado. O que aprendi é que observando a natureza podemos saber muito sobre nós.

Por estarmos desconectados da lembrança que um dia fomos um oceano, temos a falsa ideia a respeito da nossa fragilidade, e diante do todo, pensamos ser insignificantes. Para aqueles que viajam desconectados é assim mesmo. Mas na nossa individualidade, assim como cada gota, aprendemos durante a nossa viagem coisas que ainda nos falta, e depois de aprender sobre a natureza das nossas emoções, vamos ser capazes de nos juntar e formar um grande oceano, assim como as gotas que cedo ou tarde se reencontram. 
Por isso recomendo olhar para quem esta ao seu lado com um profundo respeito, pois a trajetória de cada um esta repleta de experiências misteriosas que jamais seremos capazes de saber, mas por certo as trouxeram até nós e isso já é uma indicação que jornadas se aproximaram para procurarem o caminho de volta ao mar. Uma gota pode parecer frágil, mas ela é eterna. Individualmente podem passar despercebidas, mas juntas formam uma força poderosa. 

O som da chuva torrencial e ininterrupta pode causar certa melancolia para muitos, mas é a vida mostrando seu curso de transformação sem fim. Para mim agora esta música da natureza soa como um convite a reflexão a respeito da nossa jornada a caminho do mar.


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