domingo, 25 de novembro de 2012

Deg Teens: Rituais de passagem, quem se importa?

Não sabia explicar bem porque, mas os rituais sempre me atraíram.  Neste encontro várias compreensões vieram a tona.

Rituais de passagem são celebrações que marcam mudanças de "status" de uma pessoa em uma comunidade. Podem ser por mérito como entrar na faculdade, biológicas com a chegada da menarca para as meninas, religiosas com a primeira comunhão e/ou sociais como o casamento. Na verdade, sempre estivemos rodeados de rituais de passagem, mas será que ainda fazem sentido? Esta foi a grande pergunta que fizemos neste emocionante encontro de jovens de duas faixas etárias de 12 a 13 anos e 16 a 17 anos, que contou com a presença inédita de alguns pais que vieram contrapor e engrandecer a visão feminina das mães, sempre presentes. 



Iniciamos com a leitura do conto sufi " O príncipe e os leões". Linda estória que narra um príncipe que ao chegar aos 18 anos recebeu o desafio de enfrentar um leão numa caverna, uma tradição familiar para poder ascender ao trono do rei. Ele teria tempo para decidir quando estivesse pronto para enfrentá-lo. No entanto, a partir deste momento a "pressão" do dever lhe oprime e ele resolve viajar para refletir sobre seu "problema". Na longa viagem, encontra várias comunidades que lhe dão hospedagem e comida pelo tempo que desejar, mas em todas vê-se em situações difíceis sempre com leões a sua volta. Sim, " o leão persegue-o". Em certo momento, entende que o melhor é retornar ao castelo e enfrentar o seu leão. Para sua surpresa e alívio, quando entra e ouve o forte rugido do leão, percebe que é manso e cordial. O rei então diz: você quando decidiu entrar demonstrou que estava pronto e maduro para o desafio, já posso lhe oferecer meu trono! E assim começamos nossa reflexão sobre quais são nossos "leões" ao longo da vida? Que sempre é mais fácil enfrentá-los do que imaginá-los, no entanto é preciso estar pronto. Este tempo, é o tempo necessário para se entrar em contato, amadurecer e atravessar o portal do ritual de passagem. 





Em roda, os dois grupos discutiram quais eram os rituais que julgavam significativos nos dias de hoje. O grupo mais jovem, considerou o primeiro beijo, as etapas da escola, o casamento, o dirigir pela primeira vez e o primeiro emprego como momentos relevantes do amadurecimento pessoal e por isso gostariam que tivessem valor, mas não por ser considerado um ritual imposto mas por reconhecerem uma mudança, a superação de um desafio. Já os mais velhos, não citaram rituais em especial mas confirmaram que alguns como a festa de 15 anos são "vazios" e não faz mais sentido a mulher ser "apresentada à sociedade", se assim podemos dizer. É só mais uma balada para eles, celebrado porque todo mundo comemora. O ritual que tornou-se mais frequente nesta idade é uma grande viagem, e tem mais significado.



Depois assistimos a um vídeo sobre os rituais de passagem dos índios da Tribo Kamayurá, no Xingu/MT que mostrou a importância do ritual de passagem para as meninas na menarca, que após menstruarem ficam um ano na Oca sem tomar sol, sem cortar os cabelos, apenas ouvindo e aprendendo com as mulheres mais velhas da Tribo o que é ser mulher. E quando saem, cortam a franja e estão prontas para casar. Já o vídeo sobre a entrevista com o dr. Marcos Calia, terapeuta Jungiano falou do ritual masculino desta tribo, igualmente marcante, onde os meninos aos 12 anos são "sequestrados" das Ocas pelos homens da tribo e passam vários dias sem comer e beber, enquanto as mães e mulheres da família tentam furar o cerco em vão, para levar alimento aos seus filhinhos. No entanto, isto simboliza o rompimento com o ventre materno e a conquista da capacidade de independência e sobrevivência. Falando da atualidade, ele mencionou também que a mulher por seus ciclos biológicos já tem seus rituais de passagem internos, e que por isso os homens precisariam mais rituais pois as mudanças biológicas não são tão determinantes. Na religião judaica, o Barmitzva, é um ritual muito valorizado para os meninos de 13 anos, que durante um ano e meio aprendem a ler a Torá em hebraico, os valores da religião, sua história e são questionados à respeito da vida ética. Acompanhado de várias celebrações, depoimentos emocionantes e uma grande festa, o menino passa a ser reconhecido pela comunidade e pela família como um jovem que está maduro o suficiente para fazer parte da vida adulta. 



Depois disso, a fome "apertou" e decidimos jantar o delicioso cardápio servido e abrir a roda, com todos os pais e as mães, para ampliarmos o sabor da conversa. Questionei provocativamente dizendo, a nossa sociedade não tem rituais específicos para "marcar" com clareza o momento em que os homens devem sair de casa e por isso ficam tanto tempo morando com os pais? A questão atiçou a roda... Não! Disseram os jovens, homens e mulheres são semelhantes e hoje tem os mesmos desafios, ninguém mais prepara-se para casar, o que vale é a independência financeira! Esta é a grande diferença com os rituais indígenas,  eles não tem a necessidade de independência financeira, só aprendem o " ofício" e isso muda tudo. Mas, será por isso que os jovens modernos são muitas vezes, imaturos e dependentes, emocionalmente, da mãe por não haver nenhum ritual de rompimento materno? Neste momento, caiu a ficha e fez todo sentido as rebeldias, a agressividade gratuita, os dias de mau humor despejados sobre os pais pelos adolescentes. É um rompimento de "casca", de desapego com os pais, diria principalmente, da mãe. Só não tem um ritual claro e celebrado para isso como os índios... 



Enfim concluímos, sociedades com rituais estabelecidos tendem a se manter, existe uma maior sensação de pertencimento à comunidade. Já na nossa, os valores perdem-se ou tendem a se enfraquecer.

4 comentários:

  1. É incrível juntar um grupo de jovens com tanto potencial e, através dessa iniciativa permitir que eles possam interagir e crescer! Parabéns!

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  2. Rendeu ótimas discussões e me fez reconsiderar o significado e a importância dos rituais.

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  3. Foi uma experiência nova, boa, achei que seria muito mais chato.

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  4. A discussão hoje me permitiu entender diferentes pontos de vista, e pensar sobre os rituais nas diferentes sociedades.

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