Que maravilha é “ouvir” um homem de 70 anos falar sobre os
prazeres da vida de quem já viveu e vive com um olhar curioso, o coração
desperto e a alma de menino.
Em poucas palavras Rubem vai delineando o que importa e faz
vibrar, o que tem sentido. “O prazer de conversar está nos pensamentos que
suscita e não nas conclusões que chega. Escreve com esta “fome” citando
Barthes, o texto têm que dar prova que ele me deseja, palavras dão prazer.”
Dos saberes aos sabores, os olhos contemplam de longe, mas é
pela boca que conhecemos a vida. Somos o
que comemos. Os sabores, as texturas, só são possíveis pelo ato de presença. E
curiosamente, os sabores e os saberes, têm no latim a mesma origem sapere. A ciência tenta explicar a “sabedoria”, mas a verdadeira sabedoria é saber o que não sabemos. É fazer uso da intuição.
“Se a vida dependesse de nosso saber consciente, há muito teria desaparecido”.
“O consciente é a casca da cigarra
que deve ser rompida para que o inconsciente voe. É preciso inconscientizar”.
Na escola, critica muito a forma de ensino atual onde todos
devem encaixar-se no sistema, seguir a mesma métrica do como fazer, sufocando o criativo de cada um, sua identidade. “Deveriam
ensinar a brincar com o pensamento. Só quando o pensamento brinca que as boas
idéias chegam”. O pensamento, é o sexto sentido para Rubem.
“Na culinária, o objeto é a excitação que provoca, sob a
forma de gosto.” Conhecer alguém é também provar seu gosto. “O que os amantes
buscam não é o orgasmo e, com ele a morte do desejo. O que eles desejam é a
alegria de ver crescer a fome do outro. Fome, desejo: palavras diferentes para
designar um mesmo mistério”.
Na velhice, perde-se memória, mas ganha-se em coragem, em
sermos capazes de rirmos de nós mesmos. Chega de censura. Não se preocupe é bom
esquecer, e criar espaço interno.
Mas, quem ensina, o homem maduro ou a criança? E o livro
termina com a seguinte frase: Os adultos para se salvar, deveriam rezar
diariamente a reza mais sábia de todas: “ Meu Deus, me dá cinco anos, me dá a
mão, me cura de ser grande...”
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