sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Fronteiras do Pensamento: Palestra Luc Ferry


Depoimento de Elaine Dal Coletto:

Queridas degustadoras,

Fui na palestra do Luc Ferry na última terça. Overdose de pensamentos, demais, adorei! Foi a melhor que já fui na minha vida! Vou tentar transmitir um pouco do que ele abordou.O mote da palestra era A Vida Boa, o grande desafio da filosofia em todos os tempos, a eterna busca. Ele usou duas histórias para exemplificar o que é A Vida Boa.


Começa falando que a Vida Boa é o grande desafio do ser humano. E Vida Boa é também o mistério dos filósofos. O que é a Vida Boa? Qual o senso comum para essa descrição? Ele propõe a teoria da salvação pela razão ao invés da salvação pela fé. E para isso, usa duas histórias: uma mitológica (de Ulisses) e outra da criação do casamento por amor, bem mais contemporânea, de cerca de 40 anos atrás. E, vejam bem, ocidental.

A história de Ulisses, segundo Luc Ferry, é a primeira história que tenta responder à questão do que é a Vida Boa. Quem conhece sabe que a história é imperdível, cheia de simbologias. Ulisses faz uma festa e não convida Eris, deusa da discórdia. Ela, chocada, resolve ir assim mesmo e leva consigo uma maçã de ouro, com os dizeres: reservada para a mulher mais bonita”. Inicia-se aí uma disputa pela maça por Penélope (esposa de Ulisses), Afrodite (tia ou filha, não lembro) e Atena (tia ou filha, não lembro). Para evitar uma guerra, Ulisses deveria escolher quem ficaria com a maça. Ele não quis fazer isso e pediu ajuda para os universitários - hehehe. Pediu para um jovem de 14 anos decidir. Esse jovem, disfarçado de jovem comum, era filho de um deus e escolheu Afrodite, a deusa do amor para ganhar a maça.

Diante disso, o rei de Tróia, casado com Helena, que era a mais bela de verdade, começa a guerra com Ítaca. Tróia e Ìtaca lutam por anos e Ulisses passa 10 anos lutando. Depois, mais 10 buscando o caminho de volta para casa. Ele amava Ítaca e queria voltar para sua cidade). Mas no caminho, conhece Calipso, que se apaixona por ele perdidamente e não quer que ele saia da ilha de Calipso. Calipso era sexo puro, all the time! O drama de Ulisses é a dúvida entre Calipso (cidade) e Ítaca (cidade natal). Entre Calipso (amante) e Penélope (esposa).  Ele está feliz com o amor e sexo, mas quer a harmonia e conforto do lar. Para não ir embora, Calipso promete a ele duas coisas: imortalidade e juventude eterna. Ele sabe que Aurora (essa é outra história), já havia feito isso: prometeu vida eterna para seu amado não deixá-la, mas esqueceu de lhe dar também a juventude eterna.

Então amargou o amado definhando, caindo de velho sem morrer nunca. Voltando a Ulisses, ele pensa sobre o caso de Aurora e decide não aceitar a permanência com Calipso. E então percebe que o que vale a pena não é a imortalidade (ter amor e sexo para a vida toda), mas sim a vida boa (a harmonia interior). Não optou pela vida eterna, aceitando assim que somos finitos. E quis naquele momento presente voltar para Ítaca, a cidade onde nasceu.

Meninas, não pensem que é uma história moralista, pois ele nem ficou com a vadia da Penélope no fim ta? Hahhaha... o que vale é pensar no conceito da história.

Concluindo: para os mortais, existem 3 elementos que definem a vida boa (na visão laica da vida): 1- aceitar e vencer os medos (da morte, da timidez, das fobias, das angústias), 2 - habitar o presente sem ser dependente do passado ou do futuro, 3 - se tornar um fragmento do cosmo (traduzindo: encontrar seu lugar no mundo).

Bom,  a segunda história é longa. Não vou contar. Em resumo, mostra que: O casamento por amor é uma invenção ocidental; Na época medieval, os casamentos não tinham nada a ver com amor (e sim para transmitir nome, patrimônio, preservar ecologia e movimentar a economia); Jovens medievais eram condenados á morte quando queriam escolher os casamentos por amor (porque viver uma rotina por amor é mais difícil que viver uma rotina por tradição, então os pais assumiam que esse filho não conseguiria e isso prejudicaria a família toda – vejamos hoje as separações e as perdas materiais que vivemos nos nossos tempos, onde filhos têm que perder bens e em geral depois se tornam mimados pelo esforço insano dos pais em repor estes bens, por culpa); 



Viver o amor é mais difícil que viver a tradição, por isso os casamentos alicerçados na tradição, nas convenções sociais são mais difíceis de se desfazerem, pois há mais razão do que emoção neles, desde o início; O surgimento do trabalho assalariado teve forte influência no casamento por amor; Após a 1ª Guerra Mundial é que os casamentos começaram a ser por escolha dos casais, mas ainda não era uma regra.

O casamento por amor trouxe 3 consequências principais (só lembro de 2 meninas!): a criação do divórcio, o amor cego pelos filhos (coisa que não existia antigamente).

Conclusões de Luc Ferry, que se diz um eterno apaixonado por paixões. Ele já se apaixonou várias vezes e espera que se apaixone outras tantas. Ai ai ai... que perigo aquele homem!: A gente só briga muito com quem ama. O amor não é um valor moral (pois a história mostra a vida de pessoas infelizes no amor, porém com alto grau de moral)O tédio não é uma questão moral (pois ter a mesma mulher é impossível. Por isso busca-se outras vidas)A morte não é um valor moral (pois todos, sem exceção, morremos). Tédio, amor e morte são 3 exemplos de questões espirituais, portanto. E tudo isso se relaciona com a Vida Boa.

O que nos ocupa a mente não são os valores morais e sim as espirituais. A busca da Vida Boa nada mais é que a busca pelo sagrado. O sagrado é aquilo pelo qual podemos nos sacrificar. Morríamos pela religião antigamente. Morríamos pela revolução antigamente. Morríamos pela pátria antigamente. Tudo isso era sagrado. Hoje não morremos por nada, mas somos capazes de nos sacrificar e expor pelo ser humano. Vivemos um tempo maravilhoso de desconstrução: uma liquidação do sagrado como era concebido. Estamos na época do nascimento do novo sagrado: o sagrado na figura do ser humano! AMEI ESSA PARTE, ME EMOCIONEI NA SALA SÃO PAULO! 


Os ecologistas foram os primeiros a perceber isso: que o sagrado está em proteger a raça humana e tudo do que ela depende (natureza, meio ambiente, animais...) O que importa hoje são as gerações futuras. Isso faz com que nosso amor desmedido pelos filhos, filhos estes gerados pelos casamentos escolhidos por amor, nos faça pensar na preservação da raça humana. Na Vida Boa no Momento Presente! “Vamos lutar por pessoas e não por ideias!”  Queridas, espero que tenham tido paciência. Eu proponho a leitura do livro do Luc Ferry, continuação do Aprendendo a Viver, para a próxima Deg Filó! Que tal? Beijos e amo vocês! Eli.
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COMENTÁRIOS: 

Eli, que demais!!! Que delícia quando a expectativa, a experiência e aprendizado ultrapassam aquilo que esperamos.Tô lendo devagar, mas acho que vou ler de novo...
Bjs, Adriana Barros.
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Li, nota 10 em síntese. Acho que até rolou um rápido teletransporte no tempo e espaço e dei uma passadinha lá contigo, tamanha clareza. Adorei, quero mais!!! Ainda não li a entrevista abaixo, mas tinha que dividir com as garotas antes.
Beijos, Denise.
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Eli, maravilhoso o teu texto! Muito obrigada pelo tempo e dedicação. É verdade, parecia que estávamos todas lá na Sala São Paulo. E esse cara é bom de ideias mesmo, não é? Bom, vamos ver o que combinamos para a próxima reunião!!! Beijo grande e boa semana meninas, Camilla.
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Querida Eli, como lhe disse sua motivação, seu empenho e alegria em querer nos contar tudo com tantos detalhes ... são maravilhosos! Senti-me na palestra com você. Obrigada por sua generosidade! bjkas, Flá.
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Eli, maravilhoso!!! Adoro tuas pitadas de humor. Obrigada pelo "alimento" pra alma. Verdadeira degustação!!! Bjs, Cacau.

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